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A tsetse fly (Glossina morsitans)

A doença do sono ou tripanossomíase africana é uma doença fatal, se não tratada, causada por um parasita protozoário unicelular, o Trypanosoma brucei . É transmitida através da picada de uma mosca tsé-tsé infectada, provocando uma súbita compulsão recorrente e incontrolável para dormir.

Etiologia

A doença do sono tem duas variantes, transmitidas por duas subespécies diferentes da Trypanosoma brucei .

  • A variante crónica, provocada pela Trypanosoma brucei gambiense , que se pode encontrar na África central e ocidental, pode levar de várias semanas a anos a manifestar-se.
  • A variante aguda, provocada pela Trypanosoma brucei rhodesiense e encontrada na África oriental e do sul, em que a infecção aparece em poucas semanas sendo mais virulenta e de rápido desenvolvimento.

Embora as moscas tsé-tsé não sejam facilmente infectadas com o Trypanosoma b. , uma vez infectadas elas permanecem como vectores da doença ao longo de toda a sua vida.

O parasita encontra-se na saliva das moscas e é injectado enquanto estas se alimentam do sangue. Após ser mordido por uma mosca infectada a maioria das vitimas apresenta inflamação local de onde os parasitas migram e multiplicam-se no sangue, tecidos linfáticos, fluidos corporais e eventualmente no liquido céfalo-raquidiano. O nível de Trypanosoma b. no sangue varia com cada onda de multiplicação provocando ondas de sintomas.

Epidemiologia

A doença do sono ocorre apenas em África, em locais onde existe a mosca tsé-tsé que a transmite. No entanto, o numero de moscas não está directamente relacionado com a incidência da doença, como seria de esperar em casos de transmissão mosca-homem. O facto de só existir em certos locais mostra que o factor determinante para perceber a sua epidemiologia é o local onde ocorre.

O ciclo de vida das moscas tsé-tsé varia de um a seis meses, durante os quais elas necessitam de certas condições de humidade e temperatura. Elas têm uma grande variedade de fontes de alimentação, desde sangue de animais selvagens, domésticos e humano. Sendo que alguns desses animais podem funcionar, posteriormente, como reservatórios do parasita.

  • Sendo que a subespécie gambiense existe nas florestas tropicais, em que a transmissão principalmente de humano para humano. A mosca transmissora é a Glossina palpalis que se pode encontrar junto a rios, lagos e poços.
  • A subespécie rhodesiense existe em grandes lagos e savanas, em que os animais domésticos funcionam como grandes reservatórios do parasita. A mosca transmissora é a Glossina morsitans.

O aumento do movimento populacional veio complicar e epidemiologia da doença.

História

Apesar da doença não ser compreendida até a primeira década do século XX, já tinha sido reconhecida na África Ocidental desde o século XIV, ao ponto que os europeus recusavam escravos que possuíssem as glândulas cervicais inchadas que era um sinal da doença.

Durante o período colonial a doença foi de extrema importância e os administradores das colónias estavam preocupados com a saúde dos europeus e dos africanos em seu serviço. No entanto, apenas quando apareceu a ameaça de epidemias da doença do sono , as autoridades colónias viram-se forçadas a tomar mais seriamente a saúde de populações inteiras de africanos.

Juntamente com outras doenças, a doença do sono teve um papel importante no desenvolvimento na área da parasitologia e da medicina tropical. Em que Patrick Manson, “O pai da medicina tropical”, em 1898 publicou que as doenças tropicais eram muito frequentemente provocadas por parasitas desenvolvidos em moscas.

  • Entre 1896 e 1906, epidemias de doença do sono mataram tanta gente que os poderes coloniais como a França, Inglaterra, Alemanha, Portugal, entre outros, perceberam os problemas que tal doença lhes podia trazer para a utilidade dos seus territórios.

Procederam a grandes campanhas em que equipas de investigadores formaram expedições para estudarem a doença do sono. Muitos desses investigadores provinham de novas instituições especializadas em doenças tropicais.

Após a primeira guerra mundial, em muitas colónias de África, apareceram centros especiais de investigação da mosca tsé-tsé e a doença do sono.

Os europeus encorajaram e por vezes iniciaram a investigação nas doenças tropicais, visto preocuparem-se com a possibilidade de perda de importantes mercados africanos.

  • Em 1960, com a independência de muitos territórios africanos e com os crescentes problemas políticos provocou uma quebra nas infra-estruturas médicas e movimentos populacionais que afectaram seriamente a epidemiologia da doença.

Actualmente as epidemias ocorrem nos conhecidos locais de instabilidade política e quebra de serviços de saúde.

Progressão/Sintomas/ Diagnóstico

Após a picada o parasita multiplica-se e dissemina-se durante uma a três semanas dependendo da subespécie de Trypanosoma .

  • Se for T.b.gambiense as pessoas infectadas podem viver de dois a três anos até morrerem, no entanto, no caso de infecção por T.b. rhodesiense se não for tratado, o infectado normalmente morre dentro de seis a dezoito semanas.

A doença manifesta uma vasta gama de sintomas que vão aumentando com sua progressão e o consequente aumento da parasitémia. Com o aumento de parasitas no sangue, o sistema imunitário produz anticorpos específicos contra a glicoproteína dominante da membrana do parasita. No entanto, embora a maioria dos parasitas seja destruída, aqueles que tinham uma glicoproteína diferente não são. Estes multiplicam-se gerando uma nova onda de parasitémia e de sintomas enfraquecendo cada vez mais o doente.

Os sintomas iniciais podem envolver febre, dor de cabeça, desordens fisicas tais como o nervosismo, emocionalismo, melancolia e insónia que reflecte a degeneração neurológica que está ocorrer. Pode haver, também, perda de apetite, sonolência, convulsões epilépticas, apatia e finalmente progredindo para o coma.

O diagnóstico é geralmente feito pela detecção microscópica dos parasitas no sangue ou no liquido céfalo-raquidiano. Também se pode suspeitar de infecção pelo inchaço de certos nódulos linfáticos.

References

  • Kiple, K. F. (1993). The Cambridge World History of Human Disease. Cambridge University Press, Cambridge pp.552-559

External links

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