António Nunes Ribeiro Sanches
Sanches, António Nunes Ribeiro (N. Penamacor, Portugal, 1699; ob. Paris, França, 1783 ). Médico e escritor português, pertence ao número dos intelectuais portugueses que exerceram a sua actividade no estrangeiro.
Vida
Nasceu em Penamacor, em 1699, filho de Simão Nunes e Ana Nunes Ribeiro, abastados comerciantes cristãos-novos da Beira Baixa. Parte ainda jovem para estudar Direito na Universidade de Coimbra, onde se inscreve em 1716. Insatisfeito com os estudos em Coimbra, transfere-se para a Universidade de Salamanca onde viria a receber o título de Doutor em Medicina no ano de 1724. Depois de exercer em Benavente, Guarda e Amarante, Ribeiro Sanches é denunciado denunciado à Inquisição como praticante do Judaísmo, saindo de Portugal em 1726. Após passagem por Génova, Montpellier, Bordéus e Londres, onde exerceu medicina, fixa-se em Leiden, na Holanda, onde estuda com o célebre médico Hermann Boerhaave (1668-1738). Em 1731 por intermédio deste médico obteve uma colocação na Rússia. Começou como médico do senado e da cidade de Moscovo, depois foi chamado à capital e, em 1784, nomeado médico da chancelaria de São Petersburgo e dos exércitos imperiais. Acompanhou as tropas na guerra contra a Turquia; restabelecida a paz foi nomeado médico do Corpo Imperial dos Cadetes de São Petersburgo. Em 1739 foi nomeado membro da Academia de Ciências de São Petersburgo, tendo a sua fama levado a sua nomeação como médico da czarina Ana Ivanova. Por esta mesma altura Sanches foi nomeado correspondente da Academia das Ciências de Paris. Após mais de 15 anos de permanência na Rússia, em 1747 ele parte para Paris, fugindo às intrigas da corte czarista. Termina os seus dias na cidade de Paris, onde residiu de 1747 a 1783 (ano de sua morte). Aqui colaborou com os maiores intelectuais da época, exercendo medicina e dedicando-se aos seus estudos e à escrita.
Obra
A obra de Ribeiro é em muitos aspectos pioneira e reformadora, repartindo o produto do seu próprio pensamento por diversos domínios, como a etnologia, a medicina, a educação, a arte ou a ética, beneficiando do carácter internacional do ensino universitário da época. Destaca-se nos seus textos, o propósito de colaborar ao intervir na reforma da cultura filosófica e científica do País que irá influenciar grandemente a composição dos futuros Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), sobretudo no capítulo dedicado à Medicina e aos temas pedagógicos em geral. Neste contexto sobressaem duas obras são elas o Método para aprender e estudar a Medicina (1763) e as Cartas sobre a educação da mocidade (1760). A primeira, lança as bases teóricas para a instituição de uma Faculdade Real de Medicina, à semelhança das existentes pela Europa (Paris, Viena, Bolonha); a segunda justifica a tutela do ensino pelo Estado. Ribeiro Sanches, sabendo que a educação portuguesa se conservava no estado da "monarquia gótica", redige a obra Cartas sobre a educação da mocidade, como pano de fundo para educação da juventude, desde o ensino primário ao universitário. Ambas foram elaboradas à luz da intenção reformista e pedagógica que vai animar o nosso iluminismo, através do diplomata Sebastião José de Carvalho e Melo, que veio a ser conhecido pelo nome de Marquês de Pombal (1699-1782). A Medicina foi um campo onde os judeus, não só em Portugal, mas em todo o mundo, se tornaram célebres. Ribeiro Sanches distingue-se na venereologia (sendo por isso também chamado o médico dos males de amor), sendo um nome grande da história da medicina universal, transportando consigo uma vida de recolhimento e estudo.
Principais publicações
• 1726: Discurso Sobre as Águas de Penha Garcia
• 1751: A Dissertation on the Venereal Disease.
• 1756: Tratado da Conservação da Saúde dos Povos.
• 1760: Cartas sobre a Educação da Mocidade (uma das suas obras fundamentais).
• 1763: Método para Aprender e Estudar a Medicina.
• 1779: Mémoire sur les Bains de Vapeur en Russie.
Bibliografia
Dicionário dos Descobrimentos Portugueses, volume I, direcção de Luís de Albuquerque, Círculo de Leitores 1994