Ars curandi Wiki
Advertisement

A febre amarela é uma doença viral aguda que é transmitida aos humanos pelo mosquito Aedes aegypti. Esta doença permanece endémica nas regiões tropicais de África e Américas.

Teve muitas outras designações como mal de Siam ou virus amaril devido à icterícia que lhe é característica. Foi chamada também vomito negro devido às hemorragias gastrointestinais que podem ocorrer.


Etiologia

A febre amarela é uma doença de primatas, particularmente dos macacos. A doença é transmitida entre eles por vectores de mosquitos mas não são os mosquitos que atacam geralmente o Homem.

O mosquito Aedes aegypti é responsável pela transmissão entre humanos, sendo a doença chamada epidémica ou febre amarela urbana. Este mosquito é doméstico e vive perto dos humanos, dependendo deles para as suas refeições, reprodução e habitat em locais de água estagnada. Quando o mosquito é infectado pelo flavivirus da febre amarela torna-se capaz de transmitir a doença. Este vírus ataca principalmente os macrófagos, debilitando o sistema imunitário.

Os surtos de febre amarela desenvolvem-se preferencialmente em períodos de chuva e temperatura amena ou quente.


Distribuição e Incidência Mundial

Nas Américas, a febre amarela teve um rápido declínio no século XX, essencialmente devido a esforços de erradicação de A. Aegypti dos centros populacionais. No entanto, este mosquito permanece bastante activo nas florestas da América do Sul e Central.

Os países mais afectados por esta doença são o Brasil, Equador, Venezuela, Colômbia e Peru, havendo também alguns casos na América Central, Bolívia, Argentina e Paraguai. Em África, os países mais afectados são a Etiópia e a Nigéria. Na Ásia não há registo da ocorrência desta doença, apesar de existir o mosquito vector.


Manifestações Clínicas

Os sintomas surgem 3 a 6 dias após o vírus entrar em circulação. Os sintomas chegam de forma repentina e incluem rubor, arrepios severos, febre alta, cefaleias intensas e por vezes, dores musculares e no pescoço. Ocorrem também náuseas na maioria das vezes. Estes sintomas permanecem por 2 ou 3 dias. A partir deste ponto, a maioria dos doentes recupera mas outros podem desenvolver icterícia, alucinações e hemorragias internas, vomitando grandes quantidades de sangue negro. Em situação terminal têm convulsões, entram em coma e em cerca de 20 dias morrem.

A grande quantidade de vírus desencadeia uma resposta imunitária que, se o paciente recuperar, permanece no organismo por toda a vida, conferindo-lhe imunidade. Se o paciente morrer é possível encontrar vários danos internos como hipertrofia cardíaca e congestão renal, hemorragias do estômago, duodeno, bexiga e ainda necrose do fígado.

Devido à grande variedade de sintomas, o diagnostico é difícil, podendo ser confundido com dengue, malária, febre tifóide e até mesmo constipações podem camuflar febre amarela em estados iniciais.


Prevenção

A imunidade à febre amarela é conseguida com a vacina 17D desenvolvida em 1937.


História

Não se sabe ao certo se a doença teve origem em África ou nas Américas mas há registos feitos por conquistadores espanhóis de uma doença pela qual os homens de Colombo foram afectados em Santo Domingo, em 1493, que poderia ser febre amarela. Para além disso o primeiro registo reconhecido de epidemia de febre amarela foi feito em Barbados, em 1647. Pensa-se também que África possa ser o foco da doença devido à grande imunidade dos africanos face a outras raças e também devido à prevalência do vector A. Aegypti neste continente.

Pensa-se que a propagação da doença se deveu à chegada de navios com escravos para trabalhar nas plantações de açúcar vindos de países onde existia a doença. Alguns destes homens podiam vir infectados dos países de origem e o vector da doença poderia ter sido transportado nos navios.

A febre amarela afectava maioritariamente soldados, marinheiros e imigrantes porque não estavam imunizados, havendo relatos de perda de companhias militares inteiras por esta doença.

A febre amarela não se fez sentir apenas nas colónias europeias, mas também afectou alguns países europeus. A Península Ibérica foi muitas vezes alvo de surtos epidémicos durante o século XVIII e XIX. As cidades costeiras do Porto, Lisboa e Barcelona eram as primeiras a ser afectadas. Pequenos surtos também ocorreram em França, Inglaterra e Itália.

O principio do fim da febre amarela ocorreu em 1881, quando Carlos Finlay de Cuba anunciou a sua teoria de transmissão da doença por A. Aegypti. A teoria foi confirmada em 1900 através do uso de voluntários (3 dos quais morreram) pela Comissão da Febre Amarela do Exército Americano em Havana liderada por Walter Reed.

Quando Cuba passou do controlo espanhol para americano havia um problema sanitário sério na capital, demonstrado por um surto grave de febre amarela em 1899. O médico chefe militar do Exército Americano, William Gorgas, juntamente com Walter Reed, estabeleceu um programa de controlo da doença, concentrando-se no isolamento dos doentes e na erradicação do mosquito. Os mesmos métodos de erradicação foram aplicados no Panamá, tornando possível aos trabalhadores do Canal do Panamá escapar ao destino que muitos dos antecessores franceses tiveram.

As operações de controlo da epidemia eram planeadas sem se conhecer o agente causador da doença. Novamente, Walter Reed foi importante no trabalho da descoberta do vírus. No entanto, o meio de controlo da doença continuou a ser a erradicação do vector dos centros urbanos, durante muito tempo.

Em 1913, a Fundação Rockefeller apoiou a formação da Comissão da Febre Amarela para dar apoio em programas de erradicação e incentivo à investigação, tendo sucesso na América Latina e África. Esta fundação descobriu a relação da febre amarela entre pessoas e macacos, concluindo que a erradicação não teria efeito em centros rurais devido ao contacto com os animais selvagens. A vacina foi então tomada como a solução mais eficaz, tendo sido criada em 1937, com o nome 17D. A vacinação em massa de toda a população tornou-se possível mas dependente da vontade política e de eficazes cuidados médicos, condições que não eram comuns nos territórios coloniais.

Desde 1945 que a febre amarela tem sido controlada de forma eficaz nas zonas urbanas mas as áreas rurais de alguns países ainda são afectadas. Programas de controlo destinados a populações nestas zonas têm sido desenvolvidos com base na vacinação mas o problema de criar e manter agências capazes de distribuir vacinas persiste.

Os Nomes

A febre amarela foi conhecida no Novo Mundo como “doença de Barbados”, “febre sangrenta”, maladie de Siam, el peste, vomito negro e mais tarde por "bandeira amarela" (porque os navios em quarentena de febre amarela tinham uma bandeira amarela).Como a febre amarela afectava principalmente imigrantes, soldados e marinheiros que chegavam ás Américas, foi chamada de “febre dos estrangeiros”, “doença da aclimatização” e “doença patriótica”. Esta doença foi chamada por cerca de 150 nomes, sendo finalmente designada por “febre amarela” por Griffin Hughes no seu livro História Natural de Barbados (1750).


Bibliografia

Bynum, W. F. & Porter, R. (1993). Companion encyclopedia of the History of Medicine. Routledge, London and New York. Vol. 1-2.

Kiple, K. F. (1993). The Cambridge World History of Human Disease. Cambridge University Press, Cambridge.

Advertisement