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Hipocatres

Hipócatres de Cós (460 - 370/377 a.C)

Hipócatres de Cós (460 - 370/377 a.C) um dos médicos mais reconhecidos dos seus tempos à actualidade. É visto como o Pai da Medicina e influenciou, entre outras personalidades, Galeno.

Vida

Sabe-se pouco sobre a vida de Hipócatres.

Nasceu na ilha grega de Cós por volta de 460 a.C. Era filho de Heraclides e Phenaretes. Estudou com o seu pai que era médico e com Herodicus (provavelmente de Cnidus). Ele era um Asclepíades, mas não há acordo com este termo que pode indicar um grupo particular de médicos ou simplesmente sinónimo de “médico”. Viveu e trabalhou em Cós durante muito tempo. Estudou em Atenas e, depois, mais uma vez como costume grego, alargou a sua experiência, viajando e exercendo a arte médica nas diversas cidades da Trácia, Tessália e Macedónia.


Dadas as influências que Hipócatres teve na Medicina Grega esta foi dividida nos períodos pré e pós-Hipocrático. Há que ter em conta que no período pré Hipocátrico praticavam-se muitos rituais, cerimónias religiosas com "protecção" de Deuses, ao passo que no periodo pós Hipocátrico estas práticas diminuíram mas não desapareceram.

Não há qualquer ligação entre Hipócrates e um templo de cura, pois a sua formação médica foi completamente diferente da de um sacerdote. As práticas tortuosas do mágico e a turva teologia do sacerdote (intermediário dos deuses na Terra) foram banidas e substituídas por uma rectidão e sabedoria tão claras como nunca antes vistas em obras médicas. A medicina de Hipócrates encara a doença como um fenómeno de explicação natural e não sobrenatural.

Hipócatres e os seus alunos, segundo registos como Epidemias, observaram a pneumonia, a pleurisia, a tuberculose e a malária. Em Ares, águas, lugares descreveu o primeiro tratado sobre saúde pública e geografia médica, as primeiras descrições de cálculos urinários e as primeiras observações acerca da impotência sexual. Os seus trabalhos sobre doenças infantis, ferimentos na cabeça, fracturas e articulações, assim como o juramento dos médicos, eram respostas ao humanismo e ao amor humano que caracterizaram o mundo dos gregos. Os ensinamentos de Hipócatres no seu juramento deram partida aos códigos moral e ético da prática profissional; o mundo grego conheceu uma nova imagem do médico.


As lendas a seu respeito evidenciam que a sua sabedoria atraiu a reflexão de outros até que, séculos após a sua morte, talvez por volta dos 100 anos de idade, Hipócatres, em vida um errante Asclepíades, deu lugar ao Corpus Hippocraticum, uma compilação feita no século III a.C. por estudantes alexandrinos.


Hipócrates morreu em Larissa, na Tessália cerca de 370/377 a.C.

Obra

O conjunto das obras atribuídas a Hipócrates constitui o Corpus hippocraticum. Ao Hipócrates foram atribuídos 72 textos, 42 histórias clínicas que aumentaram consideravelmente a soma de conhecimentos médicos, além da adição à terminologia médica de palavras como crónico, exacerbação, recaída, resolução, crise, paroxismo e convalescença.

A escola Hipocrática não se contentava simplesmente em especular e apresentar teorias como outras escolas de Medicina, mas em levar também a fim experiências clínicas. Todos os estudantes eram obrigados a fazer o Juramento de Hipócatres ao começar a aprendizagem médica.

Seguindo de perto os dados naturalísticos, tendendo mais ao prognóstico que ao diagnóstico, concentrados mais no doente do que na doença, os escritos de Hipócatres baseavam-se na autoridade dos factos observados.

A medicina Hipocrática privilegiava dietas alimentares e higiene para o restabelecimento da saúde do doente, baseando-se no conceito que tinham sobre a natureza: “A Natureza contém por si só a força suficiente para curar as doenças e ao médico compete seguir a vontade da Natureza e auxiliar o restabelecimento do equilíbrio (…)” in História da Farmácia, Pita, J.R.

Com as observações feitas por Hipócrates, com base em ideias circulantes na sua época, desenvolveu (além de outras escolas como a escola de Cnidus), uma teoria para explicar o funcionamento do corpo. Essa teoria foi designada por Teoria dos Humores que considerava que existiam 4 humores no homem, sendo o sangue, a linfa, a bílis amarela e a bílis negra. Esta teoria veio influenciar Galeno. Um indivíduo, à partida, saudável teria os seus 4 humores em harmonia, isto é, em eucrasia. Ao passo que, um desequilíbrio destes humores constituiria discrasia que não sendo tratada levaria a doença. A doença poderia ser devida ser devida a 2 causas: causas externas e causas internas. As causas externas podem ser inanimadas (temperatura, clima, alimentação, venenos…), animadas (parasitas de origem animal…), psíquicas (emoções…) e internas (raça, sexo, idade…).

Subentende-se pelos escritos de Hipócatres que ele depositou muito mais confiança no uso de medidas gerais do que na prescrição de drogas. Por exemplo: receitou purgantes diuréticos apenas quando eram realmente indispensáveis, fazia sangrar algumas vezes os seus doentes, se bem que não com demasiada frequência, e teve particular atenção à alimentação deles.


Publicações

  • Aforismos
  • Da Medicina Antiga
  • Da Doença Sagrada
  • Epidemias
  • Da Cirurgia
  • Das Fraturas
  • Das Articulações
  • Dos Instrumentos de Redução
  • Dos Ferimentos na Cabeça
  • Prognósticos
  • Dos Ares, Águas e Lugares
  • Do Regime nas Doenças Agudas
  • Das Úlceras
  • Das Fístulas
  • Das Hemorróidas
  • Juramento
  • Lei

Bibliografia

  • CLENDENING, Logan, Source Book of Medical History Compiled. Nova Iorque: Dover Publications, 1960.
  • COBAS, Verónica, ed., A Medicina e a Sua História. Lisboa: EPUC, 1989.
  • GILLISPIE, Charles Coulston, Dictionary of Scientific Biography, Vol. 5. Nova Iorque: Charles Scribner’s Sons, 1981.
  • JARDINE, N., The Birth of History and Philosophy of Science. Nova Iorque: Cambridge University, 1984.
  • PITA, João Rui, História da Farmácia. Coimbra: Livraria Minerva Editora, 1998.
  • WALKER, Kenneth, História da Medicina. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1958.
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