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Sangria medieval

Barbeiro/cirurgião a fazer a sangria a um paciente

Sangria era uma forma de tratamento muito popular na Idade Média sendo utilizada na cura de inúmeras doenças. Era normalmente praticada por cirurgiões ou barbeiros que tinham alguns conhecimentos na área.


O processo de sangria é um conceito que, na época, se encontrava intimamente ligado à teoria dos quatro humores. Esta teoria distinguia quatro fluidos corporais (os humores) sendo eles a bílis negra, a bílis amarela, a linfa e o sangue. Para uma pessoa se encontrar saudável, os quatro tinham de estar em equilíbrio, assim, um desequilíbrio provocado pelo excesso de um deles levaria à doença. Desta forma a maneira de a tratar era levando à purificação do organismo, induzindo a expulsão de fluidos corporais. Então, dado que o sangue era um dos humores e continha nele todos os outros, retirá-lo do corpo seria a forma mais eficaz de restabelecer o equilíbrio. Outras formas utilizadas eram a indução do vómito, o jejum ou aumento da transpiração.


Surgiu de certa forma associada à menstruação pois, segundo Hipócrates, este era um mecanismo desenvolvido pelas mulheres para expulsar do corpo os maus humores.


Segundo Galeno, quanto mais evoluída estivesse a doença mais sangue seria necessário retirar. Assim sendo, a sangria podia ocorrer de duas formas distintas: através de cortes feitos em determinadas zonas do corpo ou através de sanguessugas, quando a quantidade de sangue a ser retirado era menor. De forma a ser bem sucedida, o processo de retirar sangue de uma paciente, incluindo qual a quantidade mais adequada, deveria ter em conta vários factores e não apenas a gravidade da doença. Assim, factores como a estação do ano, o clima, o dia do mês, condições astrológicas, a idade e o género do doente, eram de extrema importância.


Mais tarde na Idade Média começaram a surgir manuscritos que continham informações sobre a prática da sangria, explicitando quais as veias a abrir e em que condições o fazer, desta forma, permitindo o diagnostico do doente de acordo com a cor e consistência do sangue retirado. Com estes conhecimentos, passou a ser comum as pessoas recorrerem a sangrias como forma de prevenir a doença e não apenas como tratamento.


Durante o séc. XVIII esta prática teve um declínio gradual até ao início do séc. XIX, período em que voltou a ganhar importância devido à sua eficácia na cura da febre tropical. No entanto terá voltado a perder relevância no fim do século face às novas teorias patológicas e fisiológicas desenvolvidas.


Bibliografia

Bynum, W. F. & Porter, R. (1993). Companion encyclopedia of the History of Medicine. Routledge, London and New York. Vol. 1-2.

Clendening, Logan (1960). Source book of Medical History compiled with notes by Logan Clendening. Dover, New York.

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